Psicóloga Ana Graça
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21 Mar, 2023 - 16:38

Os principais riscos do uso do telemóvel por crianças

Psicóloga Ana Graça

As crianças conhecem bem o mundo tecnológico. No entanto, a relação entre telemóveis e crianças coloca muitos desafios a famílias e escolas.

Telemóveis e crianças

Todos sabemos que a associação entre computadores e crianças ou telemóveis e crianças é bastante comum. As crianças e adolescentes despendem grande parte do seu tempo ligados a algum tipo de ecrã, mesmo em idades mais precoces.

Na União Europeia, mais de metade da população abaixo de 18 anos usa a Internet, com uma utilização veloz de acordo com a idade: 9% das crianças abaixo dos seis anos; uma em cada três crianças de seis e sete anos; uma em cada duas com oito e nove anos; mais de quatro em cada cinco crianças entre os 12 e os 17 anos.

Estas crianças fazem parte da primeira geração que nasceu e cresceu sempre com as novas tecnologias, interagindo com estes dispositivos de uma forma quase instintiva.

Sabemos que a tecnologia é uma grande ajuda no nosso quotidiano, assumindo-se como instrumento essencial para a educação e formação ao longo da vida, no entanto, as tecnologias não trazem apenas benefícios.

Quando acedem à internet nos seus computadores/tablets/telemóveis, muitos dos conteúdos que as crianças encontram foram concebidos para o grande público e nem sempre são benéficos ou adequados à sua idade.

A investigação sobre riscos da utilização da internet por parte de crianças tem aumentado consideravelmente nos últimos anos, com grande enfoque nas consequências negativas que esta tão próxima afinidade entre computadores/telemóveis e crianças pode ter ao nível da vida social, emocional e física.

Principais riscos do uso de telemóveis por crianças

Esteja atento a estes pontos que mencionamos de seguida, eles sim podem ser o vosso inimigo no que diz respeito aos seus filhos e ao uso de telemóveis.

  • Cyberbullying: utilização de internet e telefones para fazer ameaças, divulgar conteúdos ofensivos ou que ridicularizem as vítimas.
  • Pornografia e atividades de caráter sexual;- Comunidades virtuais inseguras: constituem especial ameaça para os jovens que demonstram inseguranças e problemas psicológicos. Nestes grupos, julgam encontrar uma fonte de compreensão e de apoio para os seus problemas, entrando numa rede que agudiza o seu estado depressivo, motivando comportamentos de risco.
  • Jogos online: uma das preocupações reside nos níveis de violência que acarretam e a dependência que podem causar. No que diz respeito aos jogos de azar, o seu acesso é fácil através da utilização de um cartão de crédito e são bastante populares nas plataformas online.
  • Medo de desconhecidos: ideia de que as crianças podem conhecer alguém online e serem persuadidas a encontrar-se com as mesmas offline, acabando por ser abusadas num encontro face a face.
  • Utilização excessiva: uso patológico da internet tem sido reconhecido como um comportamento que está associado a sinais e sintomas comuns a outros tipos de vícios.
  • Outros conteúdos inapropriados: conteúdos que promovem distúrbios alimentares, conteúdos de incentivo à automutilação ou ao consumo de drogas, ou ainda materiais que promovem discriminação e violência contra certos grupos.
  • Outros riscos: comerciais, como perder dinheiro por ser vítima de fraude na internet; técnicos, como vírus e software malicioso; e relacionados com a utilização inapropriada de informação pessoal, incluindo a violação da conta do perfil de rede social, criação de perfis falsos, ou alguém fazer-se passar por outra pessoa.

Possíveis efeitos negativos

O uso excessivo das novas tecnologias pode causar problemas de várias ordens: físicos, sociais e psicológicos. A utilização excessiva, em casos limite, aparece descrita como estando associada a: maior risco de obesidade e tendinite; desenvolvimento de comportamentos e pensamentos agressivos; comportamentos de dependência, ansiedade e depressão; isolamento social; menor oportunidade de experienciar e valorizar brincadeiras/atividades tradicionais; dificuldade em entender a fronteira entre a vida real e a vida virtual.

Todavia, a ausência de dados robustos e seguros não nos permitem tirar conclusões absolutas, ou seja, a utilização excessiva das novas tecnologias, nomeadamente da internet, poderá ou não ser problemática para o utilizador.

O que sabemos é que quanto mais os meios digitais se tornam parte integrante das nossas vidas quotidianas, mais importante se torna criar um equilíbrio entre riscos e oportunidades.

Telemóveis e Crianças: um vício?

O vício em telemóveis, também denominado “phubbing”, é descrito como o ato de estar só apesar de estar companhia de outras pessoas, ou seja, o ato em que se ignora os outros para estar constantemente a interagir com o telemóvel.

A verdade é que a relação entre os telemóveis e crianças parece estar a começar cada vez mais cedo.

A excessiva interação entre telemóveis e crianças é facilmente explicada pelo facto destes equipamentos poderem ser utilizados sempre que queiram, em qualquer local e com a componente extra de possibilitar acesso ao mundo através da internet e uma quantidade infindável de mensagens de texto gratuitas diariamente.

O telemóvel está quase como que a tornar-se parte de nós, no sentido em que nos acompanha 24h por dia. Liga as crianças aos pais atarefados, à escola, aos amigos. Dá uma sensação de companhia e de segurança e de organização do dia-a-dia. Mas, dá também um sentido de responsabilidade porque o telemóvel está à guarda da criança, sendo esta responsável por tudo o que lhe acontece.

Confere ainda um sentimento de liberdade e independência, que aproxima as crianças do mundo dos adultos. As crianças sentem essa demanda de estar a par das novidades tecnológicas, de saber mais sobre o assunto, utilizar cada vez mais e melhor.

As crianças parecem estar cada vez mais dependentes dos telemóveis não só pelo crescente papel que desempenham na comunicação com os seus pares e familiares, mas também pela companhia que este utensílio proporciona na ocupação dos momentos mais solitários, já que permite ler, ouvir música, conversar com os amigos, navegar na internet ou jogar.

Vantagens: porque nem tudo é mau

Apesar de poderem advir consequências negativas da presença excessiva das novas tecnologias na vida das crianças, a tecnologia pode igualmente ser uma grande aliada a vários níveis:

  • Interação social que estes dispositivos podem possibilitar;
  • A cultura social dos jogos pode contribuir para o desenvolvimento das relações sociais autênticas e virtuais, inclusivamente com indivíduos que vivem em realidades sociais e culturais muito diversas;
  • Partilha de informação e das experiências;
  • Acesso a diversas fontes de conhecimento, rapidez na execução de tarefas, pesquisas facilitadas de várias temáticas;
  • Formação à distância;
  • As ferramentas tecnológicas podem ser grandes aliadas no ensino: aplicadas com uma pedagogia adequada podem ajudar o professor nas suas atividades;
  • Elemento motivador extra para os alunos e um fator decisivo no aumento da sua autonomia;
  • Pode despertar habilidades como aceder, avaliar e usar a informação de forma eficiente;
  • Pode estimular habilidades para o processamento e seleção de informações;
  • Utilização de instrumentos tecnológicos desenvolvidos como apoio da psicoterapia: facilita o acesso aos serviços de saúde mental.

Mediação: para que o uso não seja abuso

Os pais são os principais educadores dos seus filhos e, no que toca à relação entre computadores/telemóveis e crianças, esse papel exerce-se sobretudo através da mediação.

  • Mediação ativa do uso da internet: quando os pais se envolvem em atividades como conversar com os filhos sobre os conteúdos da internet, ou estar próximo sempre que as crianças estão a aceder à internet.
  • Mediação restritiva: através de regras que limitam e regulam o tempo, o local de uso e as atividades online.
  • Restrições técnicas: o uso de software e de meios técnicos que filtram, restringem e monitorizam as atividades das crianças.
  • Monitorização: a verificação dos registos das atividades na internet.

Se por um lado as estratégias restritivas podem conferir maior proteção à criança limitam as oportunidades e o desenvolvimento de destrezas no uso da internet, ou seja, as estratégias devem ser sensatamente adequadas a cada situação em particular.

Mais ainda, a eficácia destas estratégias está a alterar-se com a transição da utilização do computador para uma maior utilização do telemóvel para aceder à internet, o que coloca novos e maiores desafios aos pais.

O ideal passa pela sensibilização dos menores para os perigos que podem ocorrer ao utilizar a internet, sendo o alerta e a sensibilização feitos no âmbito de uma relação de confiança estabelecido entre criança e adulto.

A partilha de informação entre pais e filhos sobre os riscos que podem acontecer na internet e as formas como os evitar podem ser úteis tanto para os menores como para os adultos que cuidam deles, e podem prevenir determinados comportamentos menos seguros.

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