Enfermeira Paula Gonçalves
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11 Mar, 2020 - 13:04

Regras básicas de primeiros socorros que todos devemos conhecer

Enfermeira Paula Gonçalves

Ter conhecimento de regras básicas de primeiros socorros pode ajudar a salvar uma vida. Conheça-as.

Regras básicas de primeiros socorros: procedimentos

Presenciar uma situação de emergência médica pode ser uma experiência intensa e assustadora. Os primeiros socorros, prestados de imediato e até à chegada das equipas especializadas, podem ajudar a diminuir o sofrimento da vítima, reduzir a gravidade das lesões ou até salvar-lhe a vida, utilizando técnicas simples e ao alcance qualquer pessoa.

Partilhamos consigo algumas regras básicas de primeiros socorros e como agir em casos de emergência específicos.

Regras básicas de primeiros socorros

Regras básicas de primeiros socorros: kit

1. Perante uma situação de emergência médica

A primeira coisa a fazer é manter a calma. Por muito grave que possa ser a situação, ela só se irá piorar se entrar em pânico. Pare por segundos, respire fundo e tente perceber o que aconteceu. Lembre-se que pode ser a única pessoa no local capaz de prestar auxílio.

2. Garanta a sua segurança

Avalie rapidamente o ambiente em seu redor e tente perceber se é seguro para si aproximar-se da vítima. Situações como afogamentos, acidentes de viação ou incêndios, por exemplo, podem implicar riscos para quem tenta prestar socorro. Nesses casos, mantenha-se num local seguro e peça ajuda.

3. Avalie a situação

Tente perceber o estado da vítima. No caso de existirem várias, quantifique-as e tente perceber como se encontram.

4. Peça ajuda

Peça ajuda através do Número Europeu de Emergência – 112. A sua chamada será atendida por uma Central de Emergência da Polícia de Segurança Pública, que encaminhará para o INEM.

Será iniciado um processo de localização, triagem e aconselhamento, de forma a perceber quais os meios de socorro adequados à condição clínica da(s) vítima(s) e o que poderá fazer até à sua chegada. Para tal, terá de informar de forma simples e clara:

  • A localização exata e, sempre que possível, com indicação de pontos de referência. Esta localização é imprescindível para enviar a ajuda necessária, devendo ser o mais completa possível
  • O número de telefone do qual está a ligar
  • O tipo de situação (doença, acidente, parto, etc.)
  • O número, o sexo e a idade aparente das pessoas a necessitar de socorro
  • As queixas principais e as alterações que observa (1).

Regras básicas de primeiros socorros: o que fazer em casos de emergência específicos?

Regras básicas de primeiros socorros: ligar 112

1. Hemorragia

Uma perda sanguínea contínua e abundante pode implicar risco de vida e deve ser controlada rapidamente.

Tente perceber qual o foco da hemorragia e aplique pressão com compressas ou uma toalha limpa e seca. Se precisar substituir as compressas, nunca retire as que estão em contacto direto com a ferida, sobreponha e fixe com ligadura.

No caso da hemorragia ser num membro, mantenha-o elevado acima do nível do coração e se a vítima se apresentar pálida e fraca mantenha-a deitada com os membros inferiores elevados (aprox. 30°). Se existir algum objeto penetrante não o mova ou retire, se possível, tente imobilizá-lo.

2. Convulsão

Vulgarmente conhecidos como “ataques epiléticos” as convulsões podem, no entanto, não ser atribuíveis à epilepsia. Independentemente da origem, a prioridade deverá ser manter a vítima em segurança, evitando que esta se magoe durante a duração da crise.

Para isso, afaste todos os objetos ou peças de mobiliário em redor que a possam ferir. Proteja, principalmente, a zona da cabeça com almofadas, toalhas ou o que tiver disponível. NUNCA introduza qualquer objeto na boca da vítima durante a crise.

Quando a crise parar, coloque-a de lado (posição lateral de segurança) e vigie até que recupere totalmente os sentidos. É possível que acorde um pouco desorientada, calmamente explique-lhe o sucedido, orientando-a no tempo e espaço.

3. Hipoglicemia

Acontece quando os níveis de açúcar no sangue descem para valores abaixo do normal. Mais comum em diabéticos, pode, no entanto, acontecer a qualquer pessoa.

Os sintomas da hipoglicemia são variáveis e podem ir de sensação de fraqueza, irritabilidade, suores frios, tremores até à inconsciência (desmaio).

Se a vítima estiver consciente, deve tranquilizá-la e oferecer-lhe alimentos doces como sumo de fruta ou água com açúcar. Assim que estiver recuperada deve fazer uma refeição ligeira. No caso dos diabéticos, estes poderão ter consigo dispositivos de avaliação da glicemia, o que os ajudará no controlo dos valores.

Se a vítima estiver sonolenta ou inconsciente, não lhe deverá dar NADA a beber ou comer. Poderá, no entanto, posicionar a vítima de lado e esfregar uma papa de açúcar no interior da boca (bochechas).

4. Acidente Vascular Cerebral

Segundo dados do INE, as doenças do aparelho circulatório continuam a constituir a principal causa de morte em Portugal (29,4%), sendo as doenças cerebrovasculares, também designadas por acidentes vasculares cerebrais (AVC) as que estiveram na origem do maior número de óbitos (2).

O AVC é uma emergência médica e exige uma atuação rápida. O fator tempo é determinante. Se a situação for identificada de forma célere e o pedido de ajuda imediato, o encaminhamento para o tratamento em centro especializado pode evitar sequelas permanentes ou mesmo a morte.

Deve suspeitar de um AVC perante:

  • Boca ao lado (peça à vítima para sorrir e observe se existe assimetria)
  • Dificuldade em falar, seja dificuldade em articular palavras ou discurso confuso
  • Falta de força num braço (pode acontecer braço e perna, simultaneamente)

Se se deparar com algum destes sintomas:

  • Ligue 112
  • Tente manter a vítima calma
  • Se a vítima ficar sonolenta, mantenha-a deitada, de lado (para o lado sem alterações), com a cabeceira ligeiramente elevada
  • Não lhe dê nada a comer ou beber

5. Enfarte Agudo do Miocárdio

Vulgarmente conhecido como “ataque cardíaco”, o Enfarte Agudo do Miocárdio (EAM) é uma situação grave e o atraso no socorro potencia a evolução negativa das lesões cardíacas, podendo mesmo tornar-se fatal.

Deve suspeitar de um EAM perante os seguintes sinais e sintomas:

  • Dor no peito com uma sensação de aperto ou pressão que não acalma com o repouso (a dor pode irradiar para o braço, pescoço, mandíbula ou costas)
  • Dificuldade em respirar
  • Pele suada, pálida (por vezes acinzentada), pegajosa
  • Desconforto abdominal que pode ser acompanhado de náuseas e vómitos.

Perante estes sinais e sintomas, o INEM recomenda que:

  • Coloque a vítima confortável: tranquilize a vítima, sente-a numa posição confortável e impeça-a de fazer qualquer tipo de esforços
  • Ligue imediatamente 112: informando o operador de quais os sinais e sintomas que a vítima apresenta
  • Siga as instruções que lhe forem fornecidas
  • Observe a atividade respiratória e a pulsação da vítima enquanto aguarda pelas equipas de emergência. Se existir alguma alteração deverá transmiti-la às equipas
  • Não se dirija ao hospital por meios próprios: o hospital mais próximo pode não ser o mais indicado
  • Nunca espere que a dor passe por si: o tempo de atuação é fundamental!(1)

Fontes

  1. VALENTE, Miguel et al. – Manual de Emergências Médicas. 1ª Edição, versão 2.0. Lisboa, 2012. ISBN 978-989-8646-03-3
Veja também

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